Ana Cristina: O HPV é um vírus capaz de causar lesões na pele e mucosas. O HPV é transmitido basicamente pelo contato sexual, podendo causar lesões na vulva, vagina, colo do útero, ânus e pênis. Ainda, em casos mais raros, pode causar lesões na pele e na laringe.
Estima-se que mais de 50% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas pelo HPV em algum momento. Porém, na maioria das vezes, as lesões causadas serão transitórias, assintomáticas e regridem espontaneamente, sendo combatidas pelo sistema imune. Existem mais de 100 subtipos de HPV. Cerca de 40 subtipos de HPV causam lesões genitais. A maioria destes está relacionada a lesões benignas, como as verrugas genitais, geralmente associadas aos subtipos 6 e 11.
Somente alguns subtipos estão relacionados a lesões pré-malignas e ao câncer de colo uterino. Os subtipos 16 e 18 estão presentes em mais de 70% dos casos de câncer de colo. O diagnóstico das lesões genitais é feito pelo exame ginecológico, e as alterações causadas pelo HPV no colo uterino podem ser detectadas no exame preventivo. A confirmação da infecção pode ser feita por exames específicos, como captura hibrida e PCR, capazes de detectar o vírus ou definir seu subtipo.
A associação entre infecção por HPV e desenvolvimento do câncer de colo é bem definida. Estudos indicam que infecção por HPV é o principal fator envolvido no desenvolvimento do câncer de colo uterino. Porém, somente uma minoria (3 a 10%) das mulheres infectadas pelo HPV de alto risco de câncer irá, de fato, desenvolver o câncer de colo uterino. Assim, o HPV isoladamente não é capaz de causar o câncer, sendo necessária associação com outros fatores.
Alguns fatores aumentam o risco de desenvolvimento do câncer em mulheres infectadas pelo HPV de alto risco, tais como o uso de anticoncepcional oral, tabagismo e doenças que diminuem imunidade. As lesões causadas pela infecção por HPV são geralmente transitórias, inclusive as causadas por HPV de alto risco, e resolvem em 6 a 12 meses. A persistência da infecção por subtipos de alto risco por mais de 6 a 12 meses é um fator importante para desenvolvimento do câncer de colo. Daí a importância da realização do exame preventivo, capaz de detectar as lesões em fases iniciais que precedem o câncer e, uma vez detectadas, podem ser tratadas antes de evoluírem para a forma invasiva.
Em resumo, a maioria dos casos de câncer de colo está relacionada com a presença do HPV tipo 16 ou 18. Porém, estar infectada por estes subtipos do HPV não significa que a mulher desenvolverá o câncer de colo uterino, somente uma minoria delas irá, de fato, desenvolver esta forma grave. Grande parte das lesões pode regredir espontaneamente ou pelo tratamento médico. Assim, o mais importante é detectar as lesões pré- cancerosas no exame preventivo e tratando destas lesões, evitando assim a persistência da doença. O tratamento escolhido vai depender do tipo e gravidade da lesão.
Existem maneiras de diminuir o risco de contaminação pelo HPV. O uso de preservativo diminui a probabilidade de infecção pelo HPV, embora não evite totalmente. A vacina bivalente de HPV previne infecção pelos subtipos 16 e 18, e a quadrivalente abrange, além deste os subtipos 6 e 11 , aqueles associados às verrugas genitais benignas. O tempo de proteção da vacina deve ser de cerca de 5 anos e seu impacto em diminuir o câncer de colo ainda não esta bem estabelecido.
ANA CRISTINA RUSSO É GINECOLOGISTA E COLUNISTA CONVIDADA.
(CRM: 5260817-0)